segunda-feira, 15 de setembro de 2014

MANIFESTO CONTRA OS POETAS DE ASSIM


Andam por aí zangados com os anéis de Saturno
e demais cósmicos e virtuosos passos de dança;
coçam a virilha cega, e a outra, e depois a pança
e pairam, sazonais, em ordem própria e por turno.

Deuses, os que têm barba e figura de indigente,
com unhas multiusos, túnicas austeras e ensebadas
que, em paralelogramos de papel dão palmatoadas
a quem se porta mal e recusa ser diferente.

Claro que há os prémios e o curriculum das medalhas
à mistura com vidas trespassadas de doenças e lamúrias,
diplomas de Pessoa, Camões e do Príncipe das Astúrias
e atrás uns quantos candongueiros, ilustres gralhas.

De todo o resto, não passam de figuras tristes:
metáforas anódinas, céus de chumbo, sonolência
e outras requentadas alquimias, como a falta de paciência…
Abençoada sejas, poesia, que a tanto resistes!