quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O VERBO SER


Estás convencido de tudo, que conheces tudo;
que sabes até por que tudo é como é.
E afinal erras, enganas-te, tropeças e feres-te
por saberes tudo de toda a gente, tudo de ti.
Enuncias os verbos, conheces de cor os advérbios,
longe de saberes o que está mais perto…
Ainda agora acordaste e já o sono de novo te invade;
ainda agora nasceste, ainda hoje morreste sem dares por isso.
Conheces a migração dos pássaros e a raiz
que prende as árvores à terra pelo mesmo motivo.
É claro que é a vida. Que mais haveria de ser?
Aprendeste o aroma dos frutos, o valor da água,
do sol, da terra. É provável até que saibas o significado do sangue.
Do teu sangue e do outro que corre por aí, avulso e sem nome.
Estás mesmo convencido que és aquela figura
que te mostra o espelho, como ainda ontem aconteceu.
Se não falasses, não te teria reconhecido,
porque ainda falas e falar é o recomeço de tudo.