terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O LIMITE DA PACIÊNCIA


Há com certeza um limite para a paciência
que eu não conheço e, assim sendo, o elástico
invisível da tolerância pode abrir fendas
e estalar-me nas mãos ou, pior ainda, na cara.
Ninguém é suficientemente louco para
suster dessa forma a respiração.
Dito de outra forma, ninguém, por muito parvo que seja,
deixa que o elástico estique, estique, estique,
ao ponto de não se poder falar já de tolerância
mas de uma qualquer algolagnia mal curada…
Deuses e construtores de automóveis
compreenderam desde o início
a necessidade de um limite para a paciência:
os mandamentos e as buzinas, se não resolvem completamente,
vão dando para as encomendas.

Os asininos de fala fácil e fato assertoado
- albarda-se o dito à vontade do dono –
cumprem um papel relevante:
obrigam os restantes a testarem os limites
(se os mandamentos estão bem encrustados nos sentidos;
se as buzinas são suficientemente timbradas).
O problema é que se multiplicam com maior frequência
e a sua proliferação pode tornar-se intolerável.
Apesar das galinhas serem o que são
e não suas excelentíssimas mães,
a vontade de que aqueles fossem ovíparos
e se pudessem comer no ovo,
não deixaria de ser um princípio de alívio,
fosse mexido ou estrelado.
Estou a perder a paciência. Repito: não conheço o limite,
mas garanto que não vai sobrar elástico.